quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A CULTURA DO CONTENTAMENTO E SUA MANIPULAÇÃO SOBRE A SOCIEDADE DE CONSUMO



A CULTURA DO CONTENTAMENTO E SUA MANIPULAÇÃO SOBRE A SOCIEDADE DE CONSUMO

Flávia Chaves Valentim Rodrigues 1, Fábio Ricci 2

1 Pós-graduanda em MGDR em Gestão e Desenvolvimento Regional - Programa de Pós-graduação em Administração - PPGA - Universidade de Taubaté – Rua Visconde do Rio Branco, 210 Centro - 12020-040 – Taubaté/SP – Brasil – flaviacvalentim@hotmail.com

2  Professor do Programa de Pós-graduação em Administração - PPGA - Universidade de Taubaté – Rua Visconde do Rio Branco, 210 Centro - 12020-040 – Taubaté/SP –


1.      Introdução

Entende-se como Cultura do Contentamento o fascínio exercido pelos artefatos de consumo e divertimentos frequentemente frívolos e dispensáveis em certas épocas.
 Segundo Galbraith, nos países capitalistas, é que o credo resultante da cultura do contentamento, é o da maioria, não apenas o de alguns poucos. E opera sob o irresistível acobertamento da democracia mesmo que não seja uma democracia de todos os cidadãos, mas somente daqueles que, em defesa de seus privilégios sociais e econômicos, efetivamente comparecem as urnas. O objetivo do presente artigo é provar como a cultura do contentamento através do poder de persuasão da mídia, é capaz de suprir a falta de inúmeras necessidades básicas por uma satisfação momentânea.

2.      Referencial Teórico                              

            Segundo Galbraith, (1992) as lições não devem ser aceitas muito prontamente, nem devem ser aceitas sem questionamento. A vida e, em particular, a vida econômica é um processo constante de mudanças e, em conseqüência, uma mesma ação ou evento, dependendo do momento em que ocorrer, pode levar a resultados muito diferentes. Pode-se refletir este cenário no comentário do autor em sua obra, sobre o colapso do mercado de ações em outubro de 1929, responsável por ruir bancos, investimentos e toda a frágil estrutura econômica dos Estados Unidos, sendo seguido pela longa, inclemente e dolorosa experiência da Depressão. Uma série de medidas públicas foram implementadas à economia americana, garantia governamental aos depósitos em bancos e, especialmente, em cadernetas de poupança; pagamentos de previdência e bem estar social; seguro-desemprego; pensões de aposentadoria e velhice; subsídios aos preços agrícolas; o compromisso implícito do governo não permitir a falência de qualquer empresa industrial ou bancária de grande porte conferindo-lhe uma elasticidade e uma resistência com gratificantes efeitos econômicos e sociais.
            Há, contudo, algumas lições em um âmbito maior que perduram, dessas, a  mais completamente invariante é o fato de pessoas e comunidades favorecidas em suas condições econômicas, sociais e políticas atribuírem virtude social e a durabilidade política àquilo que elas próprias usufruem. Essa atitude prevalece mesmo diante de evidências irrefutáveis em contrário. As crenças dos privilegiados passam a servir então à causa de prolongar o contentamento, e as idéias econômicas e políticas da época são similarmente adaptadas, (Galbraith, p.5, 1992).
            Um exemplo citado pelo autor foi em Roma após Trajano, quando o Império entrou visivelmente na defensiva. A vida em Roma propriamente dita não apresentava qualquer sinal de aceitação da fraqueza tão evidente nas fronteiras, a terrível novidade (que iria se repetir tantas outras vezes com tantos outros governos imperiais) de que era agora melhor estar fora do Império do que dentro. Vários séculos depois, poucas dúvidas havia na mente daquela turba pouco higiênica de privilegiados felizes e cheios de si que rodeavam e mantinham Luis XVI e Maria Antonieta em Paris em Versalhes.
Um conjunto potente e eficaz de idéias econômicas, as dos fisiocratas,  afirmava os princípios que justificavam os galardões desses afortunados. As idéias fisiocráticas sustentavam e celebravam um sistema econômico que devolvia toda a riqueza com algumas deduções superficiais para o comércio e a manufatura de volta aos proprietários de terra, os aristocratas que habitavam e serviam a Corte. Ninguém deveria sentir-se culpado por sua boa fortuna pessoal diante de uma classe trabalhadora que, segundo Ricardo e Malthus, procriava-se implacavelmente até o nível de subsistência; nem deveria recriminar-se por estar sujeito a um sistema de mercado que recompensava o esforço de acordo com a contribuição econômica específica e o mérito social geral.
            Nas primeiras décadas do século XX, a alienação e a ira gerada por essas atitudes, e os resultantes apuros e abusos econômicos, podiam ser vistos por todos. Na Grã-Bretanha, medidas tomadas pelo Chancellor of the Exchequer (ministro da fazenda), Lloud George, para aliviar a situação através da cobrança de impostos, assistência médica aos desamparados e especialmente remuneração para os desempregados, provocaram violenta resistência por parte dos bem de vida (Em 1910-11, houve uma crise constitucional, duas eleições e possivelmente a maior convulsão parlamentar desde Oliver Cromwell.) Hoje quase todos concordam que as medidas tão rejeitadas na época pelos afortunados salvaram o capitalismo britânico nos anos
particularmente lúgubres após a Primeira Guerra.
            De acordo com Galbraith, as circunstâncias se repetiram pouco depois nos Estados Unidos, onde, em 1932, Grande Depressão, a disseminação do desemprego sem remuneração, calamidades agrícolas, cidadãos idosos sem qualquer renda auxiliar, a resistência a sindicatos e o uso abusivo de mâo-de-obra feminina e infantil nas fábricas haviam posto em dúvida se o sistema econômico americano poderia, ou mesmo se deveria, sobreviver. O país era um caldeirão fervente de descontentamento. Todavia aqueles que permaneciam privilegiados não pareciam nem um pouco preocupados,. E, novamente, nem um pouco dispostos a aceitar medidas econômicas que poderiam salvá-los. Tão forte era a voz deles        que Franklim D. Roosevelt foi eleito para o seu primeiro mandato graças a uma espécie de embuste político. Embora prometesse mudanças, recuperação e reformas econômicas, ele tranqüilizou aqueles que se encontravam em uma muito aprazível oposição prometendo em orçamento equilibrado e redução dos gastos públicos, assegurando assim para todos os efeitos que nada seria muito diferente. George Bush não foi o primeiro candidato presidencial cujos lábios tiveram que ser lidos com certa atenção.
            A reação posterior dos bens de vida às reformas de Roosevelt, o New Deal, é parte da história dos Estados Unidos. Os afluentes, e todos aqueles que de alguma forma bem situados, mencionaram inicialmente os impedimentos constitucionais a um aumento da intervenção federal na economia, uma questão sobre a qual durante a maior parte dos dois primeiros mandatos de Roosevelt, eles contaram com o apoio de judiciário socialmente satisfeito e, portanto, solidário.
            Houve também forte oposição por motivos econômicos; e, para isso, as vozes dos economistas não se fizeram de rogadas. Joseph Alois Shumpeter, uma figura de reputação mundial da Harvard, e o apenas ligeiramente menos renomado Lionel Robbins da London School of Economics, uniram-se para argumentar que a recuperação econômica não poderia se dar através de medidas governamentais. A depressão e todos os seus desconfortos eram necessários para expelir o veneno do sistema econômico.
            Houve também, é claro, economistas que apoiaram as políticas inovadoras e protecionistas do governo; Rexford Guy Tugwell, Lauchlin Currie, Harry Dexter White, Leon Henderson, Adolf Berle (um advogado por profissão mas não por temperamento),
Gardiner C. Means e outros. Mas a história os vê como figuras excepcionais, frequentemente  corajosas e às vezes atípicas, que rejeitaram a ortodoxia estabelecida do seu tempo.
            Ainda segundo o autor, melhor reputada socialmente era a aposição que não procurava disfarçar ou esquivar-se da realidade do contentamento. Ao Testemunhar perante uma comissão do Senado, o banqueiro americano J.P. Morgan advertiu, “Se destruírem a classe ociosa, estarão destruindo a civilização”. Instado em seguida pelos repórteres a identificar a classe ociosa, ele disse, todos aqueles que têm condições de contratar uma empregada doméstica; 
            Hoje é geralmente aceito que a revolução Rooseveltiana salvou o sistema econômico capitalista tradicional nos Estados Unidos e o bem-estar daqueles que o capitalismo mais favorecia. Mediante adaptação, a raiva e alienação diminuíram, e a vida econômica tornou-se mais estável e segura. Mais isso não teria acontecido se, na plena madureza da época, os mais privilegiados e mais beneficiados tivessem conseguido fazer as coisas a seu modo. Se na eleição de 1932, eles estivessem plenamente conscientes do que estava por vir. Talvez não houvesse salvação. No caso de um pleno conhecimento das mudanças iminentes, o ímpeto, o dinheiro, a preocupação popular e propaganda que teriam sido deslanchados naquele ano certamente teriam provocado a derrota de Roosevelt.
            Galbraith afirma que a questão maior não está posta em dúvida: é mais do que evidente que os afortunados e favorecidos não contemplam nem agem de acordo com o seu próprio bem estar a longo prazo. Pelo contrário, tudo o que fazem está impetuosamente voltado ao seu conforto e contentamento imediatos. Esse é o estado de ânimo predominante. E não apenas no mundo capitalista, como o chama o autor; há um instinto humano mais profundo e mais geral envolvido.
            O socialismo foi um agradável contraste com os resquícios do feudalismo e do domínio de soberanos desnorteados, os tizares na Rússia, mais tarde Horthy na Hungria, Pilsudski e seus sucessores na Polônia, além de outros líderes tacanhos, reacionários e estouvados que haviam sido depostos pela revolução. O sistema de planejamento e comando do socialismo funcionou muito bem para criar sistemas de transportes, produzir energia elétrica e formar um parque siderúrgico e de outras indústrias de base. Na união Soviética, em particular, foi extremamente eficaz para montar a gigantesca indústria bélica que fez retroceder os exércitos de Adolf Hitler e depois desafiou o próprio Estado Unidos no espaço e em outras tecnologias avançadas.
            O sistema malogrou porque não foi eficiente para a agricultura daqueles países em que o socialismo foi estendido a este setor recalcitrante e à comercialização dos produtos agrícolas. A agricultura só funciona bem sob uma forma bastante aceita e celebrada de exploração: a exploração, pelo fazendeiro, de si mesmo, sua família e seus empregados imediatos. O sistema socialista também não foi capaz de satisfazer a demanda infinitamente diversificada e instável de serviços e produtos que constituem a economia moderna de bens de consumo, tanto no planejamento quanto na administração, revelou-se por demais inflexível. Pode-se ficar pasmo com o fascínio exercido pelos artefatos de consumo e divertimentos frequentemente frívolos  e dispensáveis em certas épocas, mas a sua sedução derradeiramente determinante não pode ser posta em dúvida.
            Camponeses pobres, dispersos pelo país, trabalhando de sol a sol para sobreviver, podem com pouco esforço, ser controlados e privados de seus direitos políticos. Para tanto sempre se pode contar com os préstimos obsequiosos dos proprietários de terras.
            O vasto e funcionalmente inevitável contingente de cientistas, jornalistas, professores, artistas, poetas, salvadores auto proclamados da alma pública, e estudantes- principalmente estudantes, todos eles buscando e em seguida exigindo participação na moderna sociedade industrial, não pode ser igualmente manipulado. A liberdade de expressão e a participação do povo no governo são aclamadas em toda parte como virtudes sociais; mas poucos se dão conta que, além de um determinado ponto do desenvolvimento econômico, elas se tornam socialmente necessárias e politicamente inescapáveis
            Assim foi na Polônia, Tchecoslováquia, Bulgária e Alemanha Oriental antes da explosão do outono e inverno de 1989-90. Assim também foi, ao longo de um período de tempo maior, na URSS. Em todos esses países, uma elite comunista privilegiada foi tomada de surpresa. Indícios da insatisfação em massa certamente existiam, havendo uma policia secreta para informar sobre essas questões, que embora no passado a liberdade tenha sido facilitada pela incompetência policial, também isso tem limites. Em alguns desses países: Alemanha Oriental, Tchecoslováquia, Hungria, a televisão transmitia os padrões de vida, os deleites (e frivolidades) do consumo na Áustria e Alemanha Ocidental vizinhas. Notícias igualmente vibrantes chegavam dos Estados Unidos. Com isso, surgia a pergunta óbvia de por que isso lhes era negado em casa.
O poder do contentamento sobre as crenças sendo universal, ele se estende igualmente ao longo do tempo e do espaço. Não é algo que possa ser restringido pelas trivialidades relativas da ideologia; afeta a todos. (Galbraith, p.6, 1992).
            De acordo com o autor, o que é novo nos chamados países capitalistas é que o contentamento predominante (e o credo dele resultante) é o da maioria, não apenas o de alguns poucos. E opera sob o irresistível acobertamento da democracia mesmo que não seja uma democracia de todos os cidadãos mas somente daqueles que, em defesa de seus privilégios sociais e econômicos, efetivamente comparecem as urnas. O resultado é um governo adaptado não à realidade ou à necessidade comum, mas às crenças e convicções dos cidadãos satisfeitos e bem de vida, que hoje constituem a maioria dos eleitores. Um consenso tão antigo quanto o próprio governo democrático ainda prevalece.
            A cultura do contentamento trata-se de uma cultura de profundo interesse e importância, daí a necessidade de estudá-la e compreendê-la.
            Passa-se a analisar a nível Brasil com Singer, (1975), que cita em sua obra o crescimento acelerado das metrópoles em países não desenvolvidos acentuou-se e tornou-se mais perceptível uma série de desequilíbrios, principalmente entre procura e oferta de habitações e serviços urbanos, que compõem uma problemática urbana específica. Segundo o autor a percepção desta problemática e do rápido crescimento da população “marginalizada” nos grandes centros suscitou abundantes apreciações críticas da urbanização nos países não desenvolvidos, boa parte das quais se voltam contra o processo como tal, revelando-se, no fundo, como uma crítica anti-urbana. 
Um determinado prefeito (nomeado) de São Paulo adquiriu notoriedade ao declarar, pouco depois de ser empossado no cargo, que a cidade precisa parar de crescer, pois do contrário ela poderia sucumbir sob o peso dos problemas gerados pela sua expansão demasiadamente rápida.
            A posição do prefeito coincide, de maneira geral, com o temor manifestado por numerosos analistas da problemática urbana perante o gigantismo das metrópoles modernas, particurlamente nos países não desenvolvidos. A tese da super-urbanização dos países que recém se industrializam encontra no caso de São Paulo uma ilustração bem expressiva. Em 1940, a mancha urbana contínua não ocupava todo o território da capital, contendo 1.326.261 habitantes. Apenas 30 anos depois ela se estendia por 37 municípios reunindo em seu interior 8.106.250 habitantes. Durante este período a população cresceu a taxa anuais médias de 5,5 – 6% , dobrando cada 12 anos.
            Afinal, o que se objeta a este fulminante crescimento urbano? Obviamente, o contínuo agravamento da problemática urbano: escassez de habitações levando à expressão de cortiços e favelas, saturação das vias de tráfego, insuficiência dos serviços urbanos básicos como o abastecimento de água encanada e de esgotos, que atendem proporções cada vez menores da população total, falta de telefones, de vagas nas escolas, de leitos hospitalares etc.
            Do ponto de vista econômico, os críticos da urbanização encaram a migração às cidades como um processo de transformação de trabalhadores agrícolas produtivos em “biscateiros”, engraxates e vagabundos. Do ponto de vista social, estes mesmos críticos apontam o desenraizamento de integrantes de comunidades rurais, que se tornam “marginais” na sociedade metropolitana. E chega assim à conhecida moral Malthusiana segundo qual os pobres são os principais responsáveis, devido ao seu comportamento reprodutivo e migratório, pelo agravamento de seus infortúnios.
             Entre a abolição da escravatura (1888) e Revolução de 1930, houve no Brasil importantes transformações econômicas, sociais e políticas. Iniciou-se processo de desenvolvimento mediante substituição de importações, com a constituição de um importante parque industrial produtor de bens de consumo não duráveis (tecidos, roupas, alimentos) principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, iniciou-se um tímido processo de urbanização, com o crescimento proporcionalmente mais rápido das capitais que eram centros de mercados regionais: Rio, São Paulo, Porto Alegre, Recife e Belo Horizonte (Singer, p. 125, 1975).
            Porém a mudança mais profunda se deu após 1930: antagonismos inter-regionais cada vez mais fortes, combinados com repetidas revoltas da oficialidade jovem, levaram à derrubada da oligarquia cafeeira do poder, que foi assumido por um coligação de políticos e “tenentes” oriundos das regiões periféricas (Nordeste e Rio Grande do Sul), conforme cita o autor, os governos originados da Revolução de 1930 (chefiados, até 1945, por Getúlio Vargas), além de porem em prática uma política mais decidida de industrialização, trataram de desarmar os “exércitos do sertão”, limitando a onipotência dos fazendeiros, e ao mesmo tempo criaram uma legislação do trabalho aplicável unicamente às áreas urbanas (na verdade, apenas às cidades maiores) que proporcionaram aos assalariados urbanos um padrão de vida substancialmente mais alto que o das massas rurais. Surge desta maneira um sistema de incentivos que atrai uma parcela crescente dos trabalhadores rurais às cidades. A grande massa rural, confinada na economia de subsistência, passa a constituir para a economia capitalista industrial um verdadeiro reservatório de mão-de-obra ou, na expressão clássica de Marx, um exército industrial de reserva. A construção de uma rede de rodovias, que passou a interligar as principais regiões do País, facilitou as comunicações e estimulou enormemente as migrações internas.
            A unificação do mercado nacional, tanto física quanto política, a partir de 1930 criou condições para uma crescente concentração do capital, antes impedida pela fragmentação regional do mercado.
A concentração do capital apresentou-se sob dois aspectos diferentes, que se reforçam mutuamente:
- A concentração de atividades em estabelecimentos e firmas cada vez maiores, causada pelas vantagens financeiras, comerciais, produtivas etc. que uma escala maior de operações proporciona;
- A concentração de atividades em determinadas áreas, causada pelas chamadas economias externas de despesas de transporte e comunicações entre empresas complementares e pelo uso em maior escala, o que reduz os seus custos, de serviços industriais (energia, água, esgotos), de serviços financeiros, comerciais etc.
De acordo com Singer, no Brasil, a concentração espacial do capital se deu primordialmente em São Paulo por uma variedade de motivos, dos quais o mais importante é que a capital paulista já possuía o maior parque industrial do País, devido à razão apontada antes: o grande mercado regional formado pela cafeicultura. Quando esta se deslocou, a partir dos anos 40, para o norte do Paraná, ela continuou fortemente ligada a São Paulo, cuja hegemonia no mercado nacional já não podia mais ser disputada.
            Segundo o autor a partir de 1950, o processo de substituição de importações atingiu as indústrias de bens de consumo durável (automóveis, eletro-domésticos), bens de capital (máquinas, equipamentos) e bens intermediários (siderúrgica, produtos químicos, de borracha, papel), a implantação destas indústrias se deu em grande parte mediante investimentos de capital estrangeiro, que trouxe ao País técnicos de produção em massa, deste modo, os novos ramos industriais já surgiram fortemente concentrados e a maior parte dos estabelecimentos localizou-se na área metropolitana de São Paulo ou em suas imediações: Baixada Santista, Campinas, e Vale do Paraíba. Esta formidável concentração de atividades industriais condicionou, por sua vez, uma extraordinária expansão de atividades terciárias na região: a atividade comercial, além de se ampliar, especializou-se, o mesmo acontecendo com a atividade financeira; a rede de ensino formal cresceu bastante, surgindo ao seu lado uma grande quantidade de cursos profissionalizantes; os serviços pessoais também se ampliaram multiplicando-se os estabelecimentos de luxo: hotéis, salões de beleza, clubes de campo, saunas, escolas de judô, de yoga etc. Isso sem falar da ampla gama de séricos demandada pela automóvel e pelo automobilista e dos serviços semi-domésticos em prédios e áreas residenciais suburbanas. Parece não haver dúvida que às vantagens efetivas da aglomeração correspondem também desvantagens, que foram sobremaneira agravadas pela ausência de um adequado planejamento em longo prazo. Como as decisões de localização de atividades são tomadas descentralizadamente, tal planejamento é sumamente difícil, senão impossível. Assim, os principais mananciais de água da cidade, o rio Tiete e seus afluentes, foram utilizados para diluir esgotos, criando grave escassez de água potável o que está requerendo custosas obras hidráulicas para trazer o líquido de área mais distantes.  Também o uso irrestrito do automóvel em todas as vias da cidade criou um volume excessivo de tráfego dificultando o transporte coletivo e exigindo ponderável volume de obras de alargamento de ruas, construção de passagens elevadas etc. A forte concentração de atividades terciárias no centro histórico da cidade contribui para avolumar determinados fluxos de trânsito, o que não deixa de agravar os problemas do trafégo. Deve-se mencionar, neste contexto, a dificuldade em se construir a rede de transporte subterrâneo (metrô) devido aos elevados custos de desapropriação de imóveis. O autor afirma que é preciso considerar, porém, que as atividades concentradas na metrópole paulista proporcionam, graças a sua maior produtividade, o excedente requerido para a solução dos problemas que elas geram. Neste sentido, seria errôneo pensar que a economia da Grande São Paulo está se tornando inviável. A sua problemática, que causa incontáveis sofrimentos à população (longas horas de espera no transporte coletivo, más condições de saneamento nas áreas de população pobre, cujos alojamentos são precários e longe dos serviços essenciais, pois a especulação imobiliária trata de repartir os recursos escassos de acordo com o poder aquisitivos dos indivíduos provém antes do atraso na adoção de medidas do que da ausência de recursos para financiá-la
            Poder-se pensar (como o faz, segundo Singer, o prefeito de São Paulo) que o problema está basicamente na excessiva velocidade do crescimento da população metropolitana o que faz crescer no mesmo ritmo a demanda por serviços urbanos, velocidade esta que supera a capacidade de acumular recursos para atendê-la. Mas, na verdade, a demanda de serviços, numa economia capitalista, é apenas a demanda solvável e por isso ela cresce em função da renda e não em função da população. A interpretação do autor baseia-se num exemplo: Uma família que chega a São Paulo sem que algum de seus membros possa empregar-se e que não dispõe de qualquer outra fonte de renda não pode sequer demandar uma habitação, constituindo no máximo uma carga para a assistência social, quando não é acolhida por parentes ou amigos, como acontece na maior parte das vezes. Quando uma família, no entanto, passa a usufruir uma renda que utiliza para se alojar, comprar automóvel etc., então sim ela contribui para avolumar a demanda por serviços urbanos. Mas neste caso, em algum ponto da economia esta renda foi gerada (graças à atividade de membros desta família ou de algum outro) de modo que o volume de recursos da economia urbana também foi acrescido.
            Não é possível atender a uma demanda rapidamente ascendente de telefones, de ligações à rede de água e de esgotos, de habitações, de vias transitáveis etc. quando as respectivas redes telefônicas, de água etc. estão saturadas.
            Outra parte do argumento anti-urbano citado por Singer é que o crescimento excessivo da população das cidades (nos países não desenvolvidos) e manifesta sob a forma de uma oferta de força de trabalho que aumenta mais depressa que a demanda, gerando um volume crescente de desemprego (aberto, oculto, disfarçado) e de subemprego.
            Pode-se iniciar a discussão sobre a propaganda na época de Rosevelt pregando a economia moderna de consumo, onde camponeses pobres trabalhando de sol a sol para sobreviver podem com pouco esforço ser controlado através da mídia e privados de seus direitos, todas pessoas exigiam participar das decisões Governamentais, da moderna sociedade industrial, e a liberdade de expressão e participação do povo são aclamadas em toda parte como virtudes sociais, mas como citado anteriormente pelo autor, poucos se dão conta de que se tornaram socialmente necessárias e politicamente inseparáveis. A elite foi pega de surpresa, a insatisfação existia em massa e a mídia transmitia os padrões de vida, os deleites (frivolidades) do consumo.
Abre-se um parêntese para entender um pouco mais sobre comportamento sócio cultural, imposto por um fator de persuasão presente na mídia, segundo Marcélia Lupetti, ambiente sócio cultural, é constituído por pessoas de uma sociedade, suas culturas, seus valores, suas crenças e seus comportamentos. O estudo desse perfil é denominado “demografia” e inclui índices de natalidade e mortalidade, estado civil, grau de instrução, profissão, crenças, hábitos de compra, número de aposentados, etc. Órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ministério da Educação e Cultura (MEC), o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), o Ministério do Trabalho e Emprego (TEM) são fontes ricas para a busca do perfil demográfico.
Sob o aspecto sociocultural, a mudança de comportamento das pessoas auxilia não apenas o marketing, mas também a comunicação, seja para a melhora do ambiente interno de trabalho, ou para a criação de campanhas publicitárias. Um exemplo de mudança pode ser observado no comportamento familiar, que deixou de ser padrão. Antigamente, as famílias, em sua maioria, eram compostas pelo pai, que trabalhava fora, pela mãe, que era dona de casa, e pelos filhos, que viviam em uma mesma casa. Hoje, existe uma diversificação muito grande do quadro tradicional influenciando mudanças de comportamento, hábitos e atitudes do consumidor em relação às compras.
Outro dado que deve ser levantado diz respeito ao comportamento de compra do consumidor: o que ele compra, quais são as razões da compra e da não compra, quem inicia a compra, quem a influencia, quem tem o poder de decisão, quem compra e quem usa. Do mesmo modo, é importante saber em que lugar está o consumidor, onde, como, quando e com que freqüência ele compra o produto, quais necessidades estão sendo satisfeitas ou não e quais são as marcas de preferência em relação a produtos e a empresas. Conhecer o perfil da população, suas características e seu comportamento podem resultar em oportunidades e tendências a serem aproveitadas nas estratégias da comunicação e no poder de convencimento que a mídia impera sobre a sociedade utilizando-se da cultura do contentamento para encobrir necessidades básicas exaltando assim valores frívolos.


Segundo Nelly de Carvalho, (1998) a mensagem advinda da publicidade é o braço direito da tecnologia, é o que traz renovação, progresso, abundância, lazer e juventude, que cerca as inovações propiciadas pelo aparato tecnológico. Ao contrário do panorama caótico apresentado no mundo dos noticiários, a mensagem publicitária cria e exibe um mundo ideal. Tudo são luzes, calor e encanto, numa beleza perfeita e não-perecível, contudo, a mensagem publicitária, não se limita ao mundo dos sonhos, ela concilia o princípio do prazer com o da realidade, quando, normativa, indica o que deve ser usado ou comprado, destacando a linguagem da marca, o ícone do objeto (cf. Quesnel, p. 86, 1974 apud Carvalho, 1998). Embora nem todas as mensagens publicitárias surtam o efeito desejado, a onipresença da publicidade comercial na sociedade de valores, co-gerados do “espírito do tempo”. Segundo Carvalho, (1998), que cita em sua obra que certa vez um gerente de uma grande agência francesa disse que publicidade é encontrar algo de extraordinário para falar sobre coisas banais. O que cabe à mensagem publicitária, na verdade, é tornar familiar o produto que está vendendo, ou seja, aumentar sua banalidade, e ao mesmo tempo valorizá-lo com uma certa dose de “diferenciação”, a fim de destacá-lo da vala comum. Acima de tudo, publicidade é um discurso, linguagem, e portanto manipula símbolos para fazer a mediação entre objetos e pessoas, utilizando-se mais da linguagem do mercado que a dos objetos.
Há cerca de um século, a publicidade limitava-se a dizer que “na rua tal, número tal, vende-se tal coisa” (Lagneau, p.131, 1974 apud Carvalho, 1998). Logo se afastou este modelo, passando a adotar uma lógica e uma linguagem própria, nas quais a sedução e a persuasão substituem a objetividade informativa, (Carvalho, p.147, 1998).
Com a dominação definitiva da cultura ocidental pela sociedade de consumo, a publicidade criou um novo tipo de universo onde as coisas não gravitam em torno do homem, é o homem que gira em torno delas, seus novos ídolos. De mãos dadas com a tramaturgia publicitária, a sociedade que a era industrial produz, desfruta dos objetos que fabrica, mas sobretudo sugere atmosferas, embeleza ambientes e artificializa a natureza, que vende de água mineral a sopinhas enlatadas. Possuir objetos passa a ser sinônimo de alcançar a felicidade: os artefatos e produtos proporcionam a salvação do homem, representam bem estar e êxito. Sem a auréola que a publicidade lhes confere, seriam apenas bens de consumo, mas mitificados, personalizados, adquirem atributos da condição humana.
Segundo o autor, a publicidade em sua forma de interagir, a linguagem publicitária se caracteriza pelo reforço do individualismo. Ao concentrar o receptor em si próprio, egoisticamente ou, quando muito, nos seus, está dizendo que o que interessa é a sua roupa, sua casa, sua saúde. A mensagem quer persuadir o receptor a realizar uma ação predeterminada e para isso usa uma linguagem autoritária, na qual se destaca o uso do modo verbal imperativo. Fora do âmbito da publicidade, no cotidiano, a ordem “faça isso” é pouco usada, preferindo-se as formas eufemísticas: “Abuse e use na C&A”.
Toda a estrutura publicitária sustenta uma argumentação icônico-linguística que leva o consumidor a convencer-se consciente ou insconscientemente. Tem a forma de diálogo, mas produz uma relação assimétrica, na qual o emissor, embora use o imperativo, transmite uma expressão alheia a si própria. O verdadeiro emissor permanece ausente do circuito da fala; o receptor, contudo, é atingido pela atenção desse emissor em relação ao objeto. Organizada de forma diferente das demais mensagens, a publicidade impõe, nas linhas e entrelinhas, valores, mitos ideais e outras elaborações simbólicas, utilizando os recursos próprios da língua que lhe serve de veículo, sejam eles fonéticos, léxico-semânticos ou morfossintáticos.
            O comportamento do consumidor é refletido pelo seu ato de consumir, segundo Bauman, (2008) se reduzido à forma arquetípica do ciclo metabólico de ingestão, digestão e excreção, o consumo é uma condição, e um aspecto, permanente e irremovível, sem limites temporais ou históricos; um elemento inseparável da sobrevivência biológica que nós humanos compartilhamos com todos os outros organismos vivos. Visto desta maneira, o fenômeno do consumo tem raízes tão antigas quanto os seres vivos, sendo parte permanente e integral de todas as formas de vida conhecidas a partir de narrativas históricas e relatos etnográficos. Qualquer modalidade de consumo considerada típica de um período específico da história humana pode ser apresentada sem muito esforço como uma versão ligeiramente modificada de modalidades anteriores, sendo assim, a continuidade parece ser a regra; rupturas, descontinuidades, mudanças radicais, para não mencionar transformações revolucionárias do tipo divisor de águas, podem ser (e com freqüência são) rejeitadas como puramente quantitativas, em vez de qualitativas. E ainda assim, se a atividade de consumir, encarada dessa maneira, deixa pouco espaço para a inventividade e a manipulação, isso não se aplica ao papel que foi e continua sendo desempenhado pelo consumismo nas transformações do passado e na atual dinâmica do modo humano de ser e estar no mundo. Em particular, não se aplica ao seu lugar entre os fatores determinantes do estilo e da qualidade da vida social e ao seu papel como fixador de padrões (um entre muitos ou o principal) das relações inter-humanas. De acordo com Bauman, as atividades de consumo ou correlatas (produção, armazenamento, distribuição e remoção de objetos de consumo) têm oferecido um suprimento constante de matéria-prima a partir da qual a variedade de formas de vida e padrões de relações inter-humanas pôde ser moldada, e de fato o foi, com a ajuda da invetividade cultural conduzida pela imaginação. De maneira mais crucial, como um espaço expansível que se abre entre o ato da produção e o do consumo, cada um dos quais adquiriu autonomia em relação ao outro, de modo que puderam ser regulados, padronizados e operados por conjunto de instituições mutuamente independentes. Seguindo-se a revolução paleolítica que pôs fim ao modo de existência precário dos povos coletores e inaugurou a era dos excedentes e da estocagem, a história poderia ser escrita com base nas maneiras como esse espaço foi colonizado e administrado, (Bauman, p.78, 2008).
Se a cultura consumista é o mode peculiar pelo qual os membros de uma sociedade de consumidores pensam sem seus comportamentos ou pelo qual se comportam “de forma irrefletida” ou, em outras palavras, sem pensar no que consideram ser seu objetivo de vida e o que acreditam ser os meios corretos de alcançá-lo, sobre como separam as coisas e os atos relevantes, acerca de o que os excita e o que os deixa sem entusiasmo ou indiferentes, o que os atrai e o que os repele, o que os estimula a agir e o que os incita a fugir, o que desejam, o que temem e em que ponto temores e desejos se equilibram mutuamente, então a sociedade de consumidores representa um conjunto peculiar de condições existenciais em que é elevada a probabilidade de que a maioria dos homens e das mulheres venha a abraçar a cultura consumista em vez de qualquer outra, e de que na maior parte do tempo obedeçam aos preceitos dela com máxima dedicação.
A sociedade de consumidores é um tipo de sociedade que (recordando um termo, que já foi popular, cunhado por Louis Althusser) interpela seus membros (ou seja, dirige-se a eles, os saúda, apela a eles, questiona-os, mas também os interrompe e “irrompe sobre eles”) basicamente na condição de consumidores. Ao fazê-lo, a “sociedade” (ou quaisquer agências humanas dotadas de instrumentos de coerção e meios de persuasão ocultos por trás desse conceito ou imagem)espera ser ouvida, entendida e obedecida. Ela avalia, recompensa e penaliza seus membros segundo a prontidão e adequação da resposta deles à interpelação. Como resultado, os lugares obtidos ou alocados no eixo da excelência/inépcia do desempenho consumista se transformam no principal fator de estratificação e no maior critério de inclusão e exclusão, assim como orientam a distribuição do apreço e do estigma sociais, e também de fatias da atenção do público.
A sociedade de consumidores, em outras palavras, representa o tipo de sociedade que promove, encoraja ou reforça a escolha de um estilo de vida e uma estratégia existencial consumistas, e rejeita todas as opções culturais alternativas. Uma sociedade em que se adaptar aos preceitos da cultura de consumo e segui-los estritamente é, para todos os fins e propósitos práticos, a única escolha aprovada de maneira incondicional. Uma escolha viável e, portanto, plausível e uma condição de afiliação.
Na maior parte da história moderna (ou seja, ao longo da era das enormes plantas industriais e dos imensos exércitos de recrutas), a sociedade “interpelava” a maioria da metade masculina de seus membros basicamente como produtores e soldados, e quase toda a outra metade (feminina) como, antes de qualquer coisa e acima de tudo, fornecedoras de serviços, (Bauman, p.121, 2008).
Por conseguinte, a obediência às ordens e a conformidade à regra, a admissão da posição atribuída e sua aceitação como indiscutível, a tolerância a trabalhos perpetuamente pesados e a submissão a uma rotina monótona, a disposição de adiar a satisfação e a aceitação resignada da ética do trabalho (significando, em resumo, o consentimento em trabalhar por amor ao trabalho fosse ele importante ou não) eram os principais padrões comportamentais treinados e ensaiados com ardor por esses membros, na expectativa de que fossem aprendidos e internalizados.

3.      Conclusão:

De acordo com Singer, parece claro que a problemática de áreas metropolitanas como a Grande São Paulo resulta de uma concentração espacial de atividades (e não de população) que, em termos econômicos, se justifica, dentro de certos limites.
Não se pode concluir daí, porém, que a aglomeração produzida pelas decisões tomadas isoladamente pelos empresários, em função de indicadores de mercado e inclinações pessoais, seja a ótima. Há duas razões, pelo menos, que invalidam esta hipótese. Em primeiro lugar, os indicadores de mercado são falhos na medida em que cada empresário ignora as decisões dos demais e as conseqüência econômicas e sociais do conjunto delas. Dado o elevado valor dos investimentos em terrenos e construções, a correção de decisões errôneas, mesmo do ponto de vista interno da empresa, só ser inviável e curto prazo. Daí os engarrafamentos de trânsito, as linhas telefônicas sobrecarregadas os cortes de energia elétrica e demais deseconomias de aglomeração. Em segundo lugar, a preferência pessoal dos empresários e da alta direção dos estabelecimentos pesa nas decisões quanto à sua localização, pois esta obviamente condiciona o local de moradia dos seus dirigentes. Segundo o autor pode-se concluir que por mais que se fale contra a qualidade de vida das metrópoles, é nelas que se encontram as melhores escolas, a assistência médica especializada, uma vida cultural mais movimentada e assim por diante. Os contrastes que ela apresenta manifestam apenas as contradições de um sistema que, para desenvolver as forças produtivas, vai sempre suscitando novos problemas. Pode-se entender como erro fato de tentar evitar estes problemas mediante a redução do dinamismo do sistema.
Conforme dito anteriormente em Paris após a época de Trajano, o sistema econômico devolvia toda riqueza aos proprietários de terras e ninguém deveria sentir-se culpado por sua fortuna diante de uma classe trabalhadora que segundo Ricardo e Malteus, procriava-se implacavelmente até o nível de subsistência. O sistema do mercado recompensava o esforço de acordo com a contribuição econômica.
 Já para fazer uma análise crítica do discurso publicitário em relação a sociedade, podemos recorrer a Faircloug, p. 36, 1990 apud Carvalho, 1998. Faircloug destaca que os vários discursos refletem algumas importantes características da sociedade capitalista moderna em que transitam. O discurso legitima a dominação das elites, e a publicidade constitui um exemplo claro, pois apresenta à população os bens de consumo da sociedade capitalista, servindo de elo entre ambos, assumindo o papel de incentivador. Reafirma, legitima e torna desejável o papel do consumidor para população. O discurso publicitário é um dos instrumentos de controle social e, para bem realizar essa função, simula igualitarismo, remove da estrutura de superfície os indicadores de autoridade e poder, substituindo-os pela linguagem da sedução.
Tais recursos permitem que o discurso publicitário cumpra sua finalidade por três vias: psicológica, antropológica e sociológica. A palavra tem o poder de criar e destruir, de prometer e negar, e a publicidade se vale desse recurso como seu principal instrumento. Bolinger (1980, p. 17) destaca que, com o uso de simples palavras, a publicidade pode transformar um relógio em jóia, uma carro em símbolo de prestígio e um pântano em paraíso tropical. A palavra deixa de ser meramente informativa, e é escolhida em função de sua força persuasiva, clara ou dissimulada. Seu poder não é o de simplesmente vender tal ou qual marca, mas integrar o receptor à sociedade de consumo. Pode-se eventualmente, resistir ao imperativo (compre), mas quase sempre se atende ao indicativo. E mesmo que não se acredite no produto, a mensagem publicitária faz-se crer, é algo parecido como Papai Noel, mesmo que não se acredite no mito, todos os aceitam como símbolo de amor e proteção.
De acordo com Carvalho pode-se entender que a função persuasiva da mensagem publicitária consiste em tentar mudar a atitude do receptor. Para isso ao elaborar o texto o publicitário leva em conta o receptor ideal, tomando por base o vazio interior de cada ser humano, onde a mensagem faz-se como o que complementa o que está faltando e para isso utiliza-se de palavras adequadas que despertam o desejo de ser feliz, natural de cada ser. Por meio das palavras o receptor descobre o que lhe faltava, embora logo após a compra sinta a frustração de permanecer insatisfeito.

4.      Referências

CARVALHO, N. Publicidade: A Linguagem da Sedução, São Paulo: Ática, 1998.
BAUMAN, Z. Vida para Consumo: A transformação das pessoas em mercadoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2008
LUPETTI, M. Gestão Estratégica da comunicação mercadológica, São Paulo: Thompson, 2007.
SINGER, P. Economia Política da Urbanização, São Paulo: Brasiliense, 1975.
RICCI, F. A Cultura do Contentamento, São Paulo, Pioneira, 1992.

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